Como gerir a utilização dos corticosteroides nas doenças reumáticas
Tradução das recomendações sobre o tratamento da Artrite Reumatoide (AR)
Vacinação para pessoas com doenças reumáticas inflamatórias auto-imunes
Estas recomendações são traduções para a língua Portuguesa das versões leigas das recomendações da European League Against Rheumatism (EULAR). As publicações originais podem ser encontradas no website da EULAR
O tratamento da AR deve basear-se na melhor prática clínica à luz dos conhecimentos atuais e deve assentar numa decisão partilhada entre o doente e o seu reumatologista assistente.
- Nas pessoas com AR, o sistema imunitário, habitualmente responsável pelo combate às infeções, começa a atacar as próprias articulações, o que pode dar origem a articulações dolorosas, inchadas e deformadas.
- Os fármacos modificadores de doença reumática, amplamente conhecidos por DMARDs, do inglês, disease-modifying antirheumatic drugs, evitam essas alterações, ao reduzirem a inflamação e ajudando a prevenir deformações articulares irreversíveis.
- Os DMARDs correspondem ao principal tratamento para a AR. Existem diversos tipos, nomeadamente:
- DMARDs sintéticos convencionais (csDMARDs) produzidos de forma química, existem há mais tempo no mercado, são exemplos, o metotrexato (MTX), a leflunomida e a sulfassalazina
- DMARDs biológicos (bDMARDs) mais recentes, produzidos a partir de células em cultura, tais como, os antagonistas do fator de necrose tumoral (TNF) (adalimumab, certolizumab-pegol, etanercept, golimumab, infliximab), abatacept, rituximab e tocilizumab.
- Com tantas opções terapêuticas disponíveis, torna-se desafiante escolher o fármaco mais eficaz e seguro para cada doente, pelo que a EULAR – European League Against Rheumatism – formou um grupo de trabalho, constituído por reumatologistas e representantes dos doentes, responsável pela elaboração de recomendações para o tratamento da AR, tendo em conta os estudos científicos publicados até à data.
As recomendações começam por frisar a importância de médicos e doentes trabalharem em conjunto para decidir a melhor opção terapêutica, que deve, portanto, assentar numa decisão partilhada entre o doente e o reumatologista assistente. Seguem outros princípios gerais:
- Os reumatologistas são, por excelência, os especialistas que devem acompanhar e tratar os doentes com AR.
- A AR pode implicar elevados custos individuais, médicos e sociais, e todos estes custos devem ser considerados pelo reumatologista na tomada de decisões.
Para além disto, as recomendações entram em detalhe sobre os vários DMARDs existentes, destacando-se os seguintes aspetos:
- Os doentes devem iniciar medicação com DMARDs assim que for estabelecido o diagnóstico de AR.
- O objetivo pretendido com a medicação é a remissão ou, em alternativa, um estado de baixa atividade da doença.
- Os reumatologistas devem avaliar regularmente os seus doentes, idealmente a cada 1 a 3 meses após início ou alteração de terapêutica, fase em que a doença se encontra ativa; na ausência de benefício ao fim de 3 meses ou na impossibilidade de se alcançar o objetivo delineado em 6 meses, deve proceder-se ao ajuste da medicação.
- O MTX deve ser o fármaco escolhido em primeiro lugar. Os doentes que não possam tomar MTX, devem utilizar em alternativa a leflunomida ou a sulfassalazina como tratamento inicial. Todos estes são csDMARDs e podem ser usados em monoterapia ou em combinação.
- Na fase inicial da doença, quando se inicia ou altera a terapêutica com csDMARDs, o tratamento com corticosteroides em baixa dose pode ser benéfico. Devem, no entanto, ser utilizados apenas por um curto período de tempo, iniciando-se a sua redução tão depressa quanto possível.
- Se a primeira estratégia terapêutica não funcionar, podem experimentar-se outros csDMARDs; se ainda assim não houver benefício, devem usar-se os bDMARDs.
- O uso de bDMARDs pode justificar-se mais precocemente nos doentes com elevada atividade da doença ou outros fatores de mau prognóstico.
- Os bDMARDs são normalmente usados em associação com o MTX.
- Se um determinado bDMARD não for eficaz, deve ser experimentado outro biológico.
- Se os bDMARDs não funcionarem, um novo DMARD designado de tofacitinib, pode ser usado nos países onde já se encontra disponível e aprovado.
- Se um doente não se encontra a tomar corticosteroides e a sua AR se encontra inativa (isto é, está em remissão), a dose do seu bDMARD pode ser reduzida.
- Se um doente se encontra em remissão por um longo período de tempo, também a dose do csDMARD pode ser reduzida, embora esta decisão deva ser tomada cuidadosamente entre o doente e o seu reumatologista.
- Quando o tratamento necessita de ser ajustado, devem ser tidos em conta vários aspetos além da atividade da doença, tais como outras doenças que possam existir e o risco de reações adversas medicamentosas ou de deformação articular ao longo do tempo.
Se tem AR, estas recomendações revelam qual o tratamento mais adequado e em que fase da doença este deverá ser iniciado. Por outro lado, também mostram que, como doente, deve ter um papel ativo no seu próprio tratamento e procurar esclarecer qualquer dúvida ou questão com o seu reumatologista.
Realizada por: Rita Cruz-Machado *, **
* Serviço de Reumatologia e Doenças Ósseas Metabólicas, Hospital de Santa Maria, CHLN, Lisboa, Portugal.
** Unidade de Investigação em Reumatologia, Instituto de Medicina Molecular, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Centro Académico de Medicina de Lisboa, Lisboa, Portugal