Estas recomendações são traduções para a língua Portuguesa das versões leigas das recomendações da European League Against Rheumatism (EULAR). As publicações originais podem ser encontradas no website da EULAR

As técnicas de imagem são uma ferramenta fundamental para classificar as Espondilartrites, pois permitem que os doentes sejam divididos em grupos diferentes e que assim recebam o melhor tratamento para a sua doença.

“Espondilartrite” é um termo genérico que diz respeito a várias condições médicas que partilham as mesmas queixas e sintomas, incluindo a Espondilite Anquilosante, a Artrite Psoriática e a Artrite Reativa. Outra forma de classificar os doentes consiste em diferenciá-los conforme as articulações afetadas pela doença, podendo assim apresentar um quadro axial ou não axial/periférico. A doença axial afeta as articulações sacroilíacas (localizadas na parte de
trás da bacia) e provoca dor de costas e rigidez. Estas doenças podem ser difíceis de diagnosticar, já que não apresentam características diferenciadoras e podem desenvolver-se num período longo de tempo. Assim, técnicas de imagem que permitam ao médico avaliar o “interior” das articulações podem ser úteis. Estas incluem a radiografia convencional, a ressonância magnética (RMN), a tomografia axial computorizada (TAC) e a ecografia.

Os autores queriam perceber melhor o que se sabe atualmente sobre as técnicas de imagem nas Espondilartrites, dentro dos estudos já disponíveis, com o objetivo de elaborar e publicar recomendações para as técnicas de imagem nas Espondilartrites. As recomendações destinam- se a aconselhar médicos e doentes e a atuar como uma medida de qualidade para a abordagem e tratamento destas doenças.

As recomendações baseiam-se em dados obtidos tanto de doentes com o diagnóstico definitivo ou provável de Espondilartrite axial ou periférica, como também doentes com dor nas costas crónica não inflamatória, com outras doenças reumáticas e de indivíduos saudáveis. Todos eles apresentavam idade igual ou superior a 18 anos.

O estudo baseou-se numa revisão sistematizada, que consiste em identificar todos os estudos publicados sobre um assunto, compilando-os num resumo. Neste caso, um grupo de peritos em Espondilartrites, incluindo reumatologistas e radiologistas, realizou uma revisão sistematizada que se focou no papel das técnicas de imagem no diagnóstico e acompanhamento de doentes com Espondilartrite e na sua utilidade em prever a progressão da doença. De um total de 7550 referências bibliográficas identificadas, 158 foram incluídas na revisão final. A partir das conclusões obtidas, criaram-se 10 recomendações para os médicos usarem.

Os autores desenvolveram 10 recomendações para o recurso a técnicas de imagem nos doentes com Espondilartrite.

  1. Espondilartrite axial: diagnóstico
    • Como primeiro exame, recomenda-se a realização de uma radiografia convencional das articulações sacroilíacas. No caso de doentes jovens ou que
      tenham sintomas recentes, pode recorrer-se à RMN, apesar de não ser geralmente aconselhada para diagnóstico na coluna
  2. Espondilartrite periférica: diagnóstico
    • A ecografia ou a RMN podem ser utilizadas para detetar sintomas de Espondilartrite periférica.
  3. Espondilartrite axial: monitorizar a atividade da doença
    • A RMN das articulações sacroilíacas e/ou da coluna pode ser solicitada para avaliar e monitorizar a atividade da doença.
  4. Espondilartrite axial: monitorizar o dano estrutural
    • A radiografia das articulações sacroilíacas e/ou coluna pode ser utilizada para monitorizar o dano estrutural e a formação óssea de novo, que pode acontecer nestas doenças. Não se deve repetir as radiografias mais do que dois em dois anos. No caso de ser precisa mais informação, pode ser necessária a RMN.
  5. Espondilartrite periférica: monitorizar a atividade da doença
    • A ecografia e a RMN podem ser utilizadas na monitorização da atividade da doença. A ecografia consegue detetar inflamação; a frequência com que deve ser feita varia conforme as características clínicas de cada doente.
  6. Espondilartrite periférica: monitorizar o dano estrutural
    • Recomenda-se a radiografia, apesar da RMN e/ou ecografia poderem fornecer informação adicional.
  7. Espondilartrite axial: prever a evolução/gravidade da doença
    • Em doentes com Espondilite Anquilosante (e não espondilite axial não radiográfica), recomenda-se a realização de radiografia da coluna cervical e lombar, sendo a RMN uma alternativa.
  8. Espondilartrite axial: prever a eficácia do tratamento
    • A presença de inflamação extensa na RMN da coluna de doentes com Espondilite Anquilosante pode indicar uma boa resposta clínica a certos tipos
      de tratamento.
  9. Fratura da coluna
    • Quando se suspeita de fratura da coluna na espondilite axial, a radiografia é oprimeiro exame de imagem a ser solicitado. No caso de não ser esclarecedora, deve recorrer-se à TAC. Outra opção é a RMN, que fornece informação adicional sobre possíveis lesões dos tecidos moles.
  10. Osteoporose
    • Em alguns doentes com espondilite axial, deve ser solicitada uma densitometria óssea para avaliar a presença de Osteoporose.

Sim, estas foram as primeiras recomendações feitas pela Liga Europeia contra o Reumatismo (European League Against Rheumatism – EULAR) que se debruçaram sobre o espectro completo dos vários tipos de Espondilartrites e que avaliaram o papel de todas as técnicas de imagem utilizadas regularmente nos dias de hoje.

Os autores do estudo estão seguros de que os resultados apresentados são fidedignos e de que as recomendações criadas podem ser utilizadas pelos médicos na sua prática clínica. No caso de algumas perguntas feitas pelos autores – como a previsão da evolução da doença ou resposta ao tratamento – a revisão bibliográfica encontrou poucos estudos. Assim, as recomendações nestas áreas basearam-se mais na opinião dos peritos, em contraste com as restantes recomendações, em que havia mais estudos e dados disponíveis.

O objetivo dos autores é disponibilizar as recomendações tanto aos médicos como doentes. A EULAR revê as suas recomendações de forma regular, pelo que este processo vai ser repetido no espaço de 5 anos para identificar e avaliar novos estudos que tenham surgido nesta área.

Estas recomendações disponibilizam informação importante sobre o recurso a técnicas de imagem no diagnóstico, tratamento e previsão de resposta ao tratamento, bem como na monitorização da progressão estrutural da doença, antes do aparecimento de sintomas. Estes dados podem permitir influenciar a forma como a sua doença será diagnosticada, pois estará informado quanto ao papel e utilidade de cada método de imagem. Ter conhecimento de como estes exames são solicitados também o ajuda a perceber porque é tão importante ter um seguimento médico regular, mesmo que se esteja a sentir bem. Se tiver alguma questão sobre os exames de imagem, deve falar com o seu médico assistente.

Realizada por: Miguel Guerra
Serviço de Reumatologia, Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho, Vila Nova de Gaia, Portugal